Há várias formas de ser mulher

Por Mariana Beltrame
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Dia desses, conversando com uma cliente antes do ensaio, perguntei sobre como ela gostaria de se ver nas imagens e o que ela estava buscando através dessa experiência.

Dentre outras coisas, ela me falou sobre o quanto sempre teve dificuldade em se ver como uma “mulher feminina”, se comportar e usar o que designa uma mulher considerada feminina. E como ela estava buscando reconhecer esse lado dela. 

A primeira coisa que veio a minha cabeça foi: “Mas há muitas formas de ser uma mulher!”

retrato ensaio fotográfico

Conversamos sobre como não é preciso seguir um manual do feminino, um padrão pré-estabelecido, porque de fato, nada disso existe, são só invenções. E como, de forma alguma, ela não deveria se preocupar em ser mais ou menos feminina.

Senti que ela chegou achando que precisava  ser mais feminina, e saiu acreditando que ela poderia ser de verdade o que era, sem pedir desculpas. E eu senti a importância de compartilharmos o que somos, pra entendermos que não estamos sozinhas, passamos pelas mesmas crises.

ensaio casual sensual

Então, deixa eu contar um pedaço da minha história pra você. Muito provavelmente, se alguém ver uma foto minha da adolescência, não me reconhece. Lutei minha vida inteira contra a necessidade das caracterizações femininas no meu corpo. Minha mãe implorava pra eu usar um batom. Eu odiava vestidos e cor de rosa. Usava roupas do meu irmão e do meu primo. Sempre curti meu cabelo bem curto (um dia eu conto do moicano e da cabeça raspada, rs).

Mas, nunca acreditei que nada disso me fizesse menos mulher. Na verdade me agrava muito me impôr desta forma.

Foi o meu jeito adolescente de dizer ao mundo que eu não estava satisfeita com o que esperavam de mim e que sim, eu merecia mais liberdade para ser quem eu quisesse.

Obviamente, eu sou uma pessoa muito diferente hoje em dia, porque as pessoas mudam e minha visão de mundo mudou. Mas essa versão adolescente ainda existe dentro de mim.

Essa Mariana adolescente compõe a Mariana adulta. E eu a aceito e a amo, porque a “rebeldia” dela – era como chamavam – me ensinou que há várias formas de ser mulher. E eu respeito demais isso nela. (Algumas vezes ainda desejo ter aquela coragem de volta.)

Estou contato isso para dizer, simplesmente, que entendo.  Entendo a dor. Todas nós, em algum momento da vida, nos sentimos inadequadas. Fora do lugar. Diferentes demais de determinado grupo. De determinada expectativa. Mesmo dentro de nossas próprias famílias.

Algumas de nós cedem e se sentem uma fraude dentro do próprio corpo. Outras não cedem e acabam magoadas, inclusive por pessoas que as amam, como muitas vezes eu fui.

ensaio casual sensual
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A verdade é dura: Nunca foi fácil ser quem a gente quer nesse mundo. Uma das características da sociedade é esmagar e suprimir o diferente, o que contesta, o que está fora da norma. “Uma mulher diferente do padrão e que se ama? Que absurdo! Tá errado isso aí. Você tem que se encaixar.”

ensaio nu artístico

Mas uma outra verdade também é dura: Há várias formas de ser mulher. E o mundo tem que aprender a lidar com isso urgentemente. Tem mulher de tudo quanto é jeito nesse mundão.

Eu tive o privilégio de acompanhar uma pequena amostragem de 700 mulheres que fotografei e posso dizer que nenhuma foi igual a outra. Tem mulher de tudo quanto é cor, tamanho e estilo. Tem mulher existindo de todos os jeitos. 

ensaio-sensual-bh

E sabe de uma coisa? Isso é lindo! Isso é maravilhoso demais pra gente ignorar.

É por isso que eu falo sobre abraçar o que nos torna únicas e transformar isso em força. Usar esse conjunto complexo que a gente é e celebrar a nossa existência.

Você já parou pra pensar que nem antes de você nascer e nem depois que você morrer, em toda a existência da humanidade, vai existir alguém igual a você?

Aqui, te faço um pedido. Pense em algo sobre você – especificamente sobre ser mulher – que talvez te deixe com vergonha. E tente fazer as pazes com esse lado seu que tanto tenta esconder.

Tente entender as motivações e as experiências que te transformaram no ser complexo que você é hoje. Aprecie essa beleza de contradições, nuances de personalidade e vivências diversas. 

Não tente se dilacerar para caber no que esperam de você. Seja o seu próprio colo, o seu próprio abraço, antes de pedir que alguém te aceite.

ensaio nu artístico

Faça as pazes com as inúmeras mulheres que existem dentro de você. As inúmeras mulheres que compõe uma mulher inteira. Respeite e entenda sua história.

Uma mulher diferente de todas.

E com muito orgulho!

Hoje posso dizer que dei um passo a mais no meu amor-próprio, por ter conseguido entender a aceitar a mulher que sou. Bem menos feminina que o esperado pelo mundo, mas feliz demais por ser honesta comigo mesma.

Meu amor-próprio não tá resolvido, viu?! Sempre será um trabalho árduo e diário. Mas acredito que podemos ir juntas, um passo de cada vez. Por isso que, vez ou outra, gosto de aparecer pra plantar uma sementinha e nos fazer questionar os incômodos.

E você? Já sentiu que não se encaixa nessa expectativa do que é ser mulher? Conta pra gente o que você tem a dizer. Vamos compartilhar e crescer juntas!

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Espero ter ajudado.
Um beijo
Mariana

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4 comentários

Alessandra 4 de abril de 2019 - 08:19

Lindo texto! Sábias palavras tocam fundo nosso interior.

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Mariana Beltrame 10 de maio de 2019 - 19:03

Obrigada pelo seu comentário, Alessandra. Fico feliz em ajudar.

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Como fazer Autorretrato: 3 vídeos pra você aprender - Mariana Beltrame 10 de abril de 2020 - 09:11

[…] Foi como eu comecei a fotografar mulheres há 10 anos atrás e como entendi e desenvolvi minha metodologia para registrar mulheres reais. […]

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A beleza não está na perfeição, mas em ser real. - Mariana Beltrame 15 de junho de 2020 - 16:40

[…] mora aí.Beleza é aquele jeitinho que só você tem e mais ninguém. Aquilo que te torna única. Não igual, não perfeita. Mas única! Real!A beleza é leve e aprender a ver beleza em si mesma trás leveza. Procure pela beleza em tudo que […]

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