Dia da mulher: Ser mulher é estar em uma corda bamba

Por Mariana Beltrame
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ensaio feminino

Todos os dias são dia da mulher, marcados por nosso suor e sangue, pois o ser mulher nunca pára para descansarmos.

Todos os dias são, para mim, dia da mulher, porque dedico cada um deles a ouvir e dar corpo às inúmeras formas e expressões das mulheres que me procuram e querem uma parte de si registradas em fotografia. De fato, trabalho e convivo com mulheres há anos e este é o assunto mais pertinente na minha vida. Sou extremamente feliz e grata por isso.

Mas o dia 08 de março é importante para não nos esquecermos o que passou e o que está por vir. Não se trata de flores ou chocolate, mas da nossa história.

Relembro com orgulho, no dia de hoje, a conquista ao voto. Esse acontecimento é  tão importante para a convivência política e social, como é importante no campo simbólico. Sinto, particularmente, que foi a primeira vez que nos ouviram, como se nossas vozes estivessem até então no pano de fundo da história. (E de certa forma, estavam mesmo!) E como é recente tudo isso! Penso nas nossas pequenas e grandes revoluções ao longo da história e me alegro em ser mulher. Me sinto forte em pensar nas mulheres que deram suas vidas pelas que ainda nasceriam.

Mas infelizmente, viver ainda nos pesa. Até hoje ainda lutamos diariamente por reconhecimento, por salários iguais, por respeito, por divisão justa das tarefas domésticas, para não sermos assediadas ou abusadas, pelo direito sobre nosso próprio corpo, por não sermos julgadas por nossa aparência, por sermos capazes de expressar livremente nosso prazer. Ainda lutamos pelo direito mais básico: o de ser quem queremos ser. Ou de ser o que somos, mesmo que não nos aprovem por isso.

É por isso que digo: ser mulher é estar numa corda bamba.

De cada lado da corda há vozes sem rosto ou alguém nos dizendo o que devemos ser. E nós estamos no meio, tentando nos equilibrar entre as espectativas. Essas vozes vêm em forma de crítica, em forma de moralismos, em forma de conceitos e regras que nos imputaram desde o nascimento. Todos os dias há uma lembrança no canto da mente ou um aviso claro no meio do caminho que nos dizem como devemos ser, o que esperam de nós. E dia após dia nos equilibramos na corda.

Toda mulher já ouviu um comentário maldoso sobre sua aparência ou comportamento, uma cantada grosseira de um homem ou se sentiu diminuida diante das imagens produzidas e objetificadas pela mídia. Isso apenas para falar do que é cotidiano. Estamos acostumadas com situações que nos destroem e nos diminuem enquanto mulher. Acostumadas com a fragmentação de quem somos e com a opressão silenciosa. Muitas de nós estamos inclusive acostumadas à violência direta.

Me pergunto todos os dias porque continuamos em cima da corda. Mesmo sabendo de tudo isso, eu ainda estou em cima da corda. E meus pés doem.

Mas acredito que uma vez que tomamos consciência de nosso lugar, cada dia é uma revolução. Cada pequena ação que movemos contra o que nos diminui, é uma revolução. Mesmo que demore uma vida para aprender, não se deixe subjulgar. No início ainda ficaremos relutantes em colocar o pezinho no chão, mas com o tempo entenderemos que nascemos para a liberdade. Estaremos tão certas disso, que ninguém poderá tirar essa preciosidade de nós. O caminho é longo mas a recompensa é ter você para si. Ser inteira. Ser sua.

Experimentar a plenitude de quem somos e saber rejeitar o que nos corrói, cabe apenas a nós. Mas você não está sozinha, sempre terá uma mulher passando pela mesma dificuldade. Resta-nos apenas retirar esse conceito vazio de que mulheres são competitivas e ruins umas com as outras, e fortalecer nosso caminho na companhia de quem nos entende melhor que ninguém.

Somos mais fortes do que nos dizem. E juntas podemos o mundo.

Feliz dia da mulher.

Ou melhor. Feliz todos os dias.

Mariana Beltrame.

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